"A Bela
Adormecida no Bosque", "Chapeuzinho Vermelho", "O barba
azul", "O gato de botas", "As fadas", "A gata
borralheira ou O Sapatinho de cristal, "Ricardo do topete", "O
pequeno polegar", são algumas histórias desse que é considerado o
iniciador dos contos de fadas para crianças, Charles Perrault.
Originários,
em sua maioria, do folclore francês, estes contos eram destinados aos adultos,
e transmitidos oralmente como entretenimento à imensa maioria que não sabia
ler, ou seja, às camadas mais pobres da população. Ao serem recolhidos da
literatura oral, foram adaptados literariamente pelo escritor, que eliminou
motivos que pudessem chocar seus leitores, incorporou elementos de sua época e
integrou aspectos da cultura popular, reelaborando estas narrativas de forma a
que alcançassem o estatuto de obras-primas da literatura universal. Reescritas
por Perrault, estas narrativas foram publicadas como leitura para crianças.
Embora estas
obras tenham sido apresentadas às crianças, os contos de fadas eram também
apreciados por adultos letrados, aos quais se destinavam as moralidades
incluídas ao final de cada um deles. Já a moral, interligada dentro do enredo
dos contos, poderia ser percebida segundo o grau de penetração dos que os lêem.
Perrault deixa
claro o caráter duvidoso de certas relações, como em “Chapeuzinho Vermelho” na
passagem em que, fazendo-se passar pela vovó, o lobo lhe diz: "Ponha o
bolo e o potinho de manteiga em cima do armário e venha deitar-se comigo."
E Chapeuzinho, então "tirou a roupa, deitou-se na cama, e ficou muito
surpresa ao ver como a sua avó era quando estava só com roupa de baixo". A
narrativa é acompanhada de uma moral, cuja mensagem nos induz a pensar nesse
lobo, não somente revestido de conotação infantil, que serve como intimidador
no caso de desobediência das crianças, mas sim como o galanteador, o homem que
usa da sedução para enganar as belas moças indefesas. A moral, então, alerta
sobre o perigo que esse estereótipo masculino oferece.
Em "A Bela Adormecida no
bosque" também encontramos uma passagem que insinua a relação amorosa
entre o príncipe e Bela Adormecida ao afirmar que, após a cerimônia de seu
casamento eles "dormiram pouco, a princesa não necessitava muito de
repouso, e o príncipe a deixou assim que amanheceu para voltar à cidade".
São situações também muito comuns em vários
contos infantis a presença das madrastas (uma vez que muitas mulheres morriam
no parto nessa época) que causavam muitos infortúnios na vida de suas enteadas,
gerando submissão e rebeldia.
É importante ressaltar a importância dos contos de
fadas para o ser humano, sobretudo, no início da vida: os contos trazem a
magia, alimentam a imaginação, ajudam a encarar os problemas da vida e, por
vezes, trazem a esperança de dias melhores. E ainda hoje esses contos continuam
a ser encantadores para adultos e crianças, que podem acreditar, pelo menos na
fantasia, que é possível viver feliz para sempre.
Os
contos ainda trazem consigo conotações morais e pedagógicas, impulsionadas por
um senso de moral muito forte. Portanto, é possível observar que os textos de
Perrault preocupavam-se com a transmissão de valores e normas de comportamento.
Na maioria das vezes, isso se dava de forma ingênua, mas acabava - e até hoje
acaba - tendo uma função utilitária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário